TRANSTORNOS ANSIOSOS NA INFÂNCIA
27/01/2012 19:16
TRANSTORNOS ANSIOSOS NA INFÂNCIA
Como psicóloga, tenho percebido um aumento significativo nos casos de ansiedade principalmente em crianças e adolescentes. Muitas vezes confundida com TDAH, a ansiedade pode passar despercebida ou ser subestimada pelo olhar leigo, mas saiba que o Transtorno de Ansiedade é sério e pode trazer conseqüências na qualidade de vida da criança e daqueles que a cercam.
Os transtornos de ansiedade na infância são comuns e podem criar um impacto significativo na rotina, no desenvolvimento, nas relações e no processo de aprendizagem. Muitos destes transtornos são persistentes, ou seja, se não forem tratados tendem a aumentar a probabilidade de problemas na vida adulta.
A ansiedade é uma resposta de auto-proteção gerada por medo ou preocupação que varia de acordo com a idade e a realidade da criança. É importante ressaltar que a ansiedade não é o problema, mas sim a intensidade dela, conforme dito em outro artigo, quando esta intensidade começa a atrapalhar a vida do indivíduo, seja criança, adolescente ou adulto.
A ansiedade é uma sensação normal e necessária, pois é o que nos impulsiona e também nos faz evitar comportamentos de risco, em outras palavras, neste caso a ansiedade é positiva.
Vários fatores contribuem para o desenvolvimento de quadros ansiosos na infância e adolescência, entre eles:
- Influências genéticas;
- Temperamento (principalmente inibição);
- Influências ambientais;
- Fatores cognitivos.
Nesse tipo de transtorno é a percepção de uma ameaça que gera a ansiedade, e as crianças ansiosas tendem a perceber e interpretar seletivamente sinais de ameaça em situações nem sempre ameaçadoras.
A classificação dos transtornos de ansiedade serve para que possamos identificá-la e buscar o melhor tratamento para cada caso. Em todas elas o papel da família é fundamental para uma melhor evolução, lembrando que a criança muitas vezes manifesta uma dinâmica familiar comprometida.
Medos “normais” (que são esperados para cada fase de desenvolvimento):
- Ansiedade de separação – aos 09 meses até início da fase pré-escolar;
- Medo de bichos, monstros, água, insetos – aos 02 anos;
- Medo de machucar o corpo, de ser zombado, se vai agradar aos outros (aceitação social) – ao final do período pré-escolar, por volta dos 07 anos aproximadamente.
Os medos e preocupações são o que chamamos de alterações do pensamento. Já a hipervigilância (como se a pessoa ficasse sempre em estado de alerta) e dores de barriga, por exemplo, são as alterações físicas e, por sua vez, o comportamento evitativo caracteriza a alteração do comportamento. Todos estes níveis de alterações são causados pela ansiedade.
Etiologia (causa)
Várias são as causas que servem de gatilho para uma crise de ansiedade, como por exemplo as experiências particulares da criança, influências genéticas, psicopatologia dos pais (casos na família de alcoolismo, depressão, entre outros), temperamento da criança (ex: criança muito inibida), práticas educativas recebida pela criança (por exemplo, diante de alguma situação os pais agem ansiosamente, é o padrão que a criança irá apreender), entre outros.
Fatores de risco
Ser o primogênito (ou ser o mais velho) é um fator de risco para várias doenças psiquiátricas, pois estes sofrem mais pressão e exigência dos pais. Crianças de famílias pequenas e de classe social alta; famílias mais esclarecidas; inibição; pais com grandes expectativas; pais que cedem às exigências do filho (criança tirana) são alguns exemplos.
Os filhos de pais permissivos não percebem a contenção dos genitores e começam a viver responsabilidades que ele ainda não está apto, preparado, devido seu nível de desenvolvimento.
Tratamento
São indicados nesses casos:
- Psicoterapia Individual;
- Psicoterapia Familiar;
- Restabelecimento da hierarquia familiar;
- Técnicas de relaxamento;
- Ludoterapia (psicoterapia infantil).
Lembrando que aderir à estes tratamentos é uma questão de prioridade.
Abaixo, veja quais são os Transtornos de Ansiedade existentes:
Transtorno de Ansiedade de Separação
Mais comum em bebês e crianças em idade pré-escolar, constitui o medo da separação real ou ameaça de separação das pessoas com quem estabeleceu vínculos, especialmente a mãe. O T.A.C. geralmente vem acompanhado da preocupação de que algo vai acontecer com aos pais. A criança pode apresentar relutância em ir à escola, dormir sozinha e ainda desenvolver sintomas somáticos como vômitos, dores de cabeça, náuseas, etc. Também são comuns choro, ataques de raiva, tristeza, apatia, entre outros.
A característica básica, portanto, são o medo e a impossibilidade da criança se separar dos pais. È mais comum aparecer por volta dos 09 anos e seu início é insidioso, costumando ocorrer em surtos (períodos de exacerbação e remissão).
Transtorno de Ansiedade Fóbico
As fobias se diferenciam dos medos normais, pois persistem mais tempo, são mal adaptativos e não há especificidade de idade. As fobias são específicas a objetos, lugares ou situações. A reação é intensa e extrema e pode provocar imobilidade, choro, ataques de raiva e angústia intensa. Em suma, é um medo significativo para a pessoa, porém é irracional, uma vez que o objeto ou situação específica usualmente não oferecem risco à pessoa. Por exemplo: medo de animais, medo de altura.
Fobia Social
Geralmente aparece na adolescência e sua principal característica é o medo excessivo da avaliação de seu desempenho junto ao grupo e em situações sociais. Em reação ao sentimento de humilhação e vergonha, a criança esquiva-se de tais situações. As crianças com fobia social relatam sofrimento em situações como ler em sala de aula, apresentar-se em eventos esportivos e artísticos, falar com adultos, iniciar uma conversa, etc.
Há um medo de se expor e o comportamento é evitativo. Não necessariamente tem a capacidade de socialização prejudicada, pois interage bem com pessoas mais próximas, entretanto fora deste meio a criança começa a ter complicações para interagir, apesar de desejar esta interação. Diferentemente da esquizofrenia precoce (na infância), que a mesma não deseja esta interação, se tornando apática.
Transtorno do Pânico
Basicamente caracteriza-se por medo de morrer ou de perder o controle. São ataques de pânico imprevisíveis e acontecem em situações onde não existe um perigo objetivo. É caracterizado por medo intenso que pode ser: inesperado (não existe um fator desencadeante particular), vinculado a situações (ocorrem por antecipação) e predisposto por situações (específicos).
Característica: a postura da pessoa é evitativa, ela tem medo de ter o ataque de pânico.
Prevalência: menos de 01% na infância
Transtorno de Ansiedade Generalizada
Mais difícil de ser diagnosticada, pois pode ser confundida com outros transtornos afetivos. O T.A.G. caracteriza-se pela preocupação excessiva, intensa e persistente envolvendo vários eventos passados e futuros como desempenho, realização de tarefas, controle de tempo, catástrofes, etc. A criança pode apresentar inquietação motora, nervosismo, tremores, sudorese, taquicardia, tontura, entre outros. Dores recorrentes como dor de cabeça, de estômago, distúrbios do sono, tensão muscular, irritabilidade, dificuldade de concentração, fadiga também são sinais de TAG.
A auto-imagem da pessoa com TAG é negativa e depressão é muito comum. Ela se sente incapaz de relaxar, não consegue controlar a preocupação e queixas somáticas são habituais. Para o diagnóstico ser preciso, o paciente precisa queixar-se dos sintomas estarem presentes em sua vida por no mínimo 06 meses consecutivos.
Finalizando:
Você deve estar se perguntando o porquê de se tratar a ansiedade na infância. A resposta é simples: para termos adultos saudáveis.
Importante: a ansiedade é um sintoma presente em todas as doenças da mente. Por isso, é preciso fazer um diagnóstico diferencial. Medo e ansiedade todos nós temos, mas devemos avaliar quando estes sintomas fogem da normalidade e exigem um cuidado mais específico. Na suspeita ou na dúvida, procure um profissional.
Elaborado por Priscila Didone – Psicóloga, com base em leitura de textos, palestras, no DSM-IV e em sua prática clínica.