Psicoterapia na terceira idade: algumas considerações.
20/07/2012 15:03
PSICOTERAPIA NA TERCEIRA IDADE: Algumas considerações.
Na sociedade em que vivemos, ainda há uma visão muito preconceituosa sobre esse tipo de ajuda para pessoas que já passaram dos sessenta e cinco anos.
Ensinaram-nos que a vida é composta de fases: infância, adolescência, idade adulta, velhice e que a fase de construção, de investimento nos projetos de vida, se situa num período que vai do nascimento até a juventude.
Habituamo-nos com a seguinte idéia: enquanto somos jovens, devemos plantar. Depois dessa época, deveremos colher o que plantamos. Se não tivermos plantado, no tempo certo, não haverá muito a se recuperar, ou a se fazer, principalmente se já passamos da marca dos sessenta.
Mergulhados numa visão tão pessimista em relação ao futuro do idoso (definida – quase sempre - como uma fase de declínio da vida), nossa sociedade não vê sentido em se tratar uma pessoa idosa, que apresente problemas existenciais. Ela, diferentemente de um jovem, não apresenta mais a força para construir e produzir (já que numa sociedade capitalista isso é de suma importância), ou motivação suficiente para investir no tempo de vida que lhe resta.
Terapia com idosos comumente é considerada, no mínimo, como uma perda de tempo, um investimento sem retorno, ou coisas do tipo.
Provavelmente, uma das maiores dificuldades enfrentadas pela pessoa idosa, que já tem uma história pessoal longa, é acreditar que tem condições de mudar o rumo que sua vida tomou. Ela considera que "já é assim há muitos anos" e, portanto, não será agora que irá conseguir mudar seu modo de pensar e agir. Sente-se ancorada no passado, presa às suas verdades, ao "seu destino". Esse determinismo fatalista marca profundamente o modo de ser-no-mundo do idoso.
Na realidade, a terapia bem sucedida acarreta uma mudança no cliente. Mas o que vem a ser essa tal mudança?
O processo de mudança não está baseado numa subtração de características da pessoa ou de sua substituição por outras novas, mas sim num acréscimo ao que já somos: ou através de conhecimentos novos sobre nós mesmos e nossa realidade, ou por uma possibilidade de um novo modo de perceber o nosso mundo interno e externo. Com isso, podemos afirmar que a mudança é possível para qualquer pessoa, de qualquer idade.
Nosso passado e nossa experiência pessoal são um patrimônio valioso. Não temos que nos desfazer dele, mas, pelo contrário, utilizá-lo em nosso favor.
A pessoa de idade avançada, teoricamente, possui uma enorme bagagem e com ela poderá construir o seu futuro de uma maneira muito positiva.
Eventualmente, precisamos atender idosos internados em clínicas geriátricas, em suas residências, ou nas de parentes seus. A participação da família é de grande importância para o bom resultado da terapia, principalmente quando se trata de pacientes muito idosos, ou fisicamente muito comprometidos, pois, quase sempre, é na família que repousam todos os pilares da construção de sua melhora.
Muitos idosos passam a viver afastados do convívio social e seu mundo fica limitado ao lar onde residem. Nem sempre aí, na sua própria casa, ou na casa de algum filho ou parente, mantêm contatos interpessoais estimulantes e vão, pouco a pouco, se isolando. Seus desejos, suas histórias, seu modo de pensar, vão se perdendo. Com isso, diminuem suas chances de estabelecer relacionamentos que lhe sejam enriquecedores, interessantes ou até mesmo motivadores. Principalmente quando o idoso já não tem mais o seu companheiro.
A viuvez pode trazer, para a pessoa de idade mais avançada, um tipo de isolamento que pode ser cruel: filhos vivendo em suas próprias casas, nem sempre próximas da casa de seus pais. Resta-lhe, então, ligar-se a alguém da família, ou a uma pessoa amiga, ou a uma "enfermeira", ou acompanhante, para ajudá-la a conviver com essa nova realidade.
São momentos difíceis para muitos idosos, principalmente para aqueles que, por característica de personalidade, são mais reservados, ou não acostumados à convivência com terceiros.
Um tópico que é também relevante quando se fala na ajuda psicológica às pessoas idosas refere-se ao trabalho, a uma ocupação.
O idoso se beneficia das atividades nas quais possa se envolver. Trabalho e ocupação precisam ser compreendidos como qualquer atividade desenvolvida pelo idoso, que possa trazer para ele algum sentido de realização pessoal: pintura, música, literatura, escultura, cultivo de plantas, cuidados com animais de estimação, ou um trabalho associado a alguma instituição filantrópica, entre outros. Tais atividades, quando aceitas pelo idoso, lhe trazem um enorme benefício, sendo que o mais comum que podemos observar é o surgimento de uma revitalização e uma valorização do idoso.
Quem já passa dos 65 anos não deixa de ser PESSOA e, como tal, reside nela um potencial para viver sua vida do modo mais pleno possível. Sendo assim, a psicoterapia é um dos meios que ajudam o idoso a encontrar, nele mesmo, esse potencial.