O que acontece no cérebro Autista?
24/03/2013 15:35
O que acontece no cérebro Autista
Estudos com ressonância magnética especial mostram que os autistas, ao contrário das outras pessoas, têm dificuldade de diferenciar pessoas de objetos.
Num cérebro considerado normal, a visão de faces humanas ativa o giro fusiforme, uma pequena região no córtex cerebral. No cérebro de um autista, as imagens de faces são processadas por uma região usada para a percepção de objetos inanimados, chamada de Giro Inferior Temporal.
A única certeza que os pesquisadores têm é que não existe apenas uma causa para o autismo.
Quando o autismo foi diagnosticado pela primeira vez há quase 60 anos, os psiquiatras acreditavam que se tratava de um distúrbio psicológico, reflexo das atitudes de maus pais, ou, mais especificamente, de uma mãe fria e distante. Quer dizer: como se não bastasse a dificuldade de ter um filho autista, pelo menos duas gerações de pais ainda levaram a culpa pela síndrome de seus filhos.
Por trás dos fatores que determinam o autismo, diversas hipóteses vêm sendo levantadas, tais como:
• Genética: Evidências colocam a genética como a mais provável causa do autismo. Irmãos de autistas têm 25 vezes mais chances de sofrer da síndrome. Entre irmãos gêmeos, essas chances são 375 vezes maiores. O mais intrigante: de cada cinco autistas, quatro são homens.
• Doenças infecciosas: Pesquisas indicam que infecções pré-natais – como rubéola, caxumba, sífilis e herpes – podem estar relacionadas com as causas do autismo. Mas não se sabe ainda qual interação de vírus e bactérias determinaria a ocorrência da síndrome. No Brasil, a pesquisadora paulista Eneida Matarazzo está publicando uma polêmica tese sobre o assunto. Médica do Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo, Eneida defende que alguns casos de autismo têm origem numa resposta errada do sistema imunológico a determinados tipos de vírus e bactérias. Depois de usar medicamentos imunossupressores em crianças que apresentaram quadros de autismo após infecções bacterianas, ela diz que conseguiu em alguns casos reverter os sintomas.
• Intoxicação química e ambiental: Na cidade de Leomenster, em Massachusetts (EUA), foi encontrada uma incidência maior de autismo num local onde já esteve instalada uma fábrica de lentes para óculos de sol. O interessante é que a proporção mais alta de casos de autismo estava nas casas situadas exatamente na direção da fumaça trazida pelo vento das chaminés da fábrica. A hipótese é considerada em vários estudos sobre a incidência de autismo.
Ø Preste atenção no comportamento da criança desde pequena. Quanto mais cedo o autismo for detectado, maiores serão as chances de tratamento.
1. Até 1 ano de idade
• A criança não reage às expressões faciais de seus interlocutores, nem dirige o olhar para o rosto da mãe;
• Tem aversão ao toque e não se aninha no colo de ninguém;
• Não estabelece comunicação com quem cuida dela;
• Não reage ao próprio nome quando chamada.
2. A partir de 1 ano
• Tem mais interesse por objetos do que por pessoas;
• Não divide a sua atenção entre mais de uma situação, nem responde aos estímulos do ambiente;
• Tem dificuldade para fixar o olhar;
• Não aponta para lugares ou objetos para demonstrar interesse;
• Verbalizações pobres, pouco ou nada comunicativas;
• Jeito de brincar repetitivo.
Memórias de uma menina estranha
Excertos da autobiografia da americana Temple Grandim, uma autista com PhD em Psicologia
• Olhar distante - “Minha voz era inexpressiva, com pouca inflexão e nenhum ritmo. Isso já bastava para me marcar como uma pessoa diferente. Os olhos esquivos – tão característicos de muitas crianças autistas – eram outro sintoma do meu problema. Além da dificuldade de falar e da inflexão da voz, eu já era adulta quando consegui pela primeira vez olhar alguém nos olhos.”
• Padrões repetitivos - “Outra de minhas fixações mais incômodas era ficar repetindo a mesma pergunta o tempo todo. Eu esperava, com prazer, obter a mesma resposta – vezes sem conta. Girar como um pião era outra atividade que eu apreciava. Eu gostava de girar sentada no chão. Toda a sala girava comigo. Esse comportamento auto-estimulante me fazia sentir poderosa, com controle sobre as coisas. Eu sei bem que as crianças que não são autistas também gostam de girar nos balanços. A diferença é que a criança autista fica obcecada com esse ato de girar.”
• Surdez aparente - “Quando era criança, lembro de minha mãe dizendo sempre: ‘Temple, está me ouvindo? Olhe para mim’. Às vezes eu tentava, mas não conseguia. E nenhum som se intrometia na minha fixação. Era como se eu fosse surda. Nem mesmo um barulho forte e repentino conseguia me assustar ou fazer-me sair do meu mundo.”
• Desinteresse por pessoas - “Eu me interessava pouco pelas outras crianças, preferindo meu mundo interior. Era capaz de ficar sentada horas a fio na praia deixando a areia escorrer por entre meus dedos e construindo morros em miniatura.”
• Mente visual - “Minha mente é totalmente visual e tenho muita facilidade para tarefas de natureza espacial, como desenhar. Consigo fazer a imagem girar e deslocar em minha mente como se fosse um filme. Não consigo conceber outra forma de raciocínio que não seja visual.”