Esteja por inteiro no momento presente.
17/10/2012 16:38
Estar por inteiro no momento presente é uma forma de se iluminar
(Luiz Cláudio Pezzini)
Muitos dos nossos problemas simplesmente se dissolvem quando estamos verdadeiramente presentes no aqui e agora, pois somente no momento presente a existência humana pode ser plena.
Sabe-se que existem alguns pensamentos repetitivos geradores de padrões de comportamento igualmente repetitivos em nossa vida que impedem, assim, a presença (ou seja: a vivência adequada do momento presente). Esses pensamentos repetitivos seriam pensamentos relacionados ao passado e ao futuro. De fato, passado e futuro são aspectos indissociáveis da existência humana. Não exatamente em termos do que já foi ou daquilo que ainda está por vir, mas em termos de que somos, nós mesmos, passado e futuro simultaneamente, a todo o momento.
Até aí tudo bem. Acontece que esta característica ontológica do ser humano pode se manifestar de diversas maneiras e, devido ao fato de que ainda temos pouco domínio sobre nossa mente, pensamentos ligados ao passado e ao futuro ocorrem frequentemente, convertendo-se numa forma de aprisionamento. Estamos sempre “revivendo” cenas do passado, às vezes simplesmente revendo e reforçando os sentimentos ligados a elas, outras vezes tentando entender o que deu errado, modificando falas, perguntando-nos “e se tivesse sido assim?” Aprisionados à lágrima não derramada, acabamos gastando boa parte do nosso tempo também com antecipações do futuro, ensaiando situações por vir, ansiosos para que nossos desejos se realizem ou temerosos do oposto. Em resumo, apegados ao passado e aos frutos da nossa ação. O problema, portanto, não é a temporalidade, mas o apego a isto que alguns chamam de tempo psicológico.
O ponto que nos interessa aqui é que se estamos sintonizados no passado ou no futuro, não estamos inteiramente presentes no aqui e agora. E por que isso seria um problema? Resposta: pelo simples fato de que a vida ocorre aqui e agora. O passado é base, é fundação, apoio a partir da qual podemos dar o passo. O futuro é chamado, é a perna que avança. É para onde a vida naturalmente caminha. Mas a vida em si dá-se no presente – a existência é isso, o próprio aqui e agora. Já dizia John Lennon, “a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos”.
Quando estamos verdadeiramente sintonizados na vivência do presente, a maioria dos nossos problemas desaparece. Isto porque a maior parte dos nossos problemas decorrem dos pensamentos, da atitude mental. Observe atentamente. E mesmo que estejamos passando por uma fase difícil, com problemas reais, uma sintonia fina no aqui-agora frequentemente permite a experiência da ausência dos problemas. Isto é radicalmente diferente de alienar-se da realidade, pois ao contrário da alienação, estamos falando de um grau superior de consciência. Também não quer dizer que não devamos pensar no passado ou no futuro, mas apenas chama a atenção para a diferença entre fazer um uso adequado da mente (memória, conhecimento, capacidade de planejamento e previsão, etc.) e ser usado por ela.
Ganhar presença pode parecer complicado devido ao nosso vício em pensar e em estar ocupado. Passamos a maior parte do tempo envolvidos com nossas ocupações. Ficamos tão habituados a estar ocupado, que para muitos é difícil imaginar-se sem fazer nada. No plano dos pensamentos, ocorre a mesma coisa: estamos sempre pensando em algo. Além disso, muitas vezes o que estamos pensando não coincide com o que estamos fazendo. Isto acontece porque sempre nos movemos na vida com certa compreensão do mundo e de nós mesmos, certa familiaridade que nos permite conduzir nossas tarefas sem que estejamos necessariamente pensando sobre o que estamos fazendo. Sem que estejamos inteiros na ação. Funcionamos no automático.
Um exemplo comum é quando vamos a um local que já estamos acostumados a ir. Não ficamos pensando a cada momento no que estamos fazendo para chegar ao local desejado, simplesmente vamos. Enquanto seguimos em direção ao destino, a mente vai para outro lugar. Parece mesmo ter o poder de ir para onde quiser, quer queiramos quer não – e assim nos leva com ela. Absorvidos pelos pensamentos, distraídos de nós mesmo por esta absorção pelas ocupações e pensamentos, já não nos damos conta de que perdemos a presença e estamos sendo conduzidos pelos passeios da mente. A perda da presença nos coloca à mercê da mente: se nos ocorre de termos pensamentos agradáveis durante o trajeto, ficamos de bom humor. Se, por outro lado, nos lembramos de algo incômodo, é possível que cheguemos ao nosso destino de péssimo humor. Um detalhe importante: o humor, neste caso, não tem nada a ver nem com a viagem em si, nem com as condições do local de chegada, mas tão somente com os pensamentos ocorridos durante a viagem. O controle que os pensamentos exercem sobre nós (isto é, o quanto nos identificamos com eles) tende a ser maior quanto menor for nossa presença. Ora, isto também implica que na presença temos uma chave para a libertação dos apegos.
O resgate da presença começa com uma decisão. Sempre que se perceber perdendo a presença, é só retornar: conectar-se com o agora, consigo mesmo, com o corpo, a respiração, a paisagem, a música, enfim, o que quer que seja que esteja compondo seu aqui-agora. Às vezes nossos sentidos comuns ajudam a resgatar a presença: sentir a brisa tocando a pele, o aroma que nos arrebata, o sabor de algo. Por mais simples que seja o estímulo sensorial, ele pode ser percebido em sua maravilha e nos deixar em êxtase. Outras vezes, somente nos distanciando dos sentidos é que conseguimos ganhar presença. É quando já estamos excessivamente “para fora” e precisamos do recolhimento para conseguir a conexão. O ganho de presença eleva nosso nível energético e proporciona condições superiores para lidarmos com tudo que se apresente.
Da próxima vez que se perceber agitado, por que não experimenta parar tudo por alguns segundos, respirar fundo e se conectar com o aqui-agora?