Diálogo e intimidade nos relacionamentos.
09/09/2012 15:46
Diálogo e intimidade nos relacionamentos
Como anda seu relacionamento afetivo em termos de diálogo? Vocês e seu parceiro (a) conversam? Sobre o que? Coisas do cotidiano ou vocês efetivamente se revelam um para o outro?
Esses questionamentos são necessários porque atualmente é notório quantos casais sofrem de desconhecimento mútuo. Por um lado, não se mostram verdadeiramente. Por outro, preferem que o outro também não se mostre em maior profundidade, pois isso poderia colocá-los em situações incômodas, gerar talvez até um sentimento de inferioridade. No entanto, em ambos os casos estamos falando simplesmente de encarar a verdade a respeito de si mesmo, daquele com quem nos relacionamos e do relacionamento a dois, propriamente dito.
Não é curioso este caminho que os relacionamentos ditos íntimos tomaram? Fica-se à vontade para ter relações sexuais, mas não para falar sobre certas coisas. A verdadeira intimidade vai além da cama, da “pele” ou da química. Mas com isso não se quer sugerir que se sature a relação com falação cansativa, desnecessária ou implicante. Com freqüência, quando não se peca por falta, peca-se por excesso: ou quase não há diálogo, ou entope-se a relação com assuntos que só tem o objetivo de manter o casal distraído, ocupados com coisas sem importância. Mas sobre o que realmente importa não se fala. E assim, a intimidade do casal vai sendo abalada, isso quando ela existe. Pois sabe-se também que muitos casais estão mantendo a atual relação por comodidade, por uma carência afetiva e por um não suportar a solidão, a sua própria companhia, sendo necessária a presença do outro para que eu me sinta completo.
Talvez isto não fizesse tanta diferença em outros tempos, como saber? Mas atualmente a história é diferente. A cada dia fica mais difícil se sustentar relacionamentos baseados em nada e a ausência de diálogo franco e de intimidade (leia-se intimidade como a comunhão de seu modo-de-ser com o modo-de-ser mais pronfundo do outro, não apenas intimidade na cama, como já referido acima) acaba implicando em mentiras e omissões, pelo simples fato de que os envolvidos no relacionamento já não conhecem um ao outro de verdade, o que os impede de se relacionarem a partir de sua verdade mais profunda.
Quantos casais você já viu por aí que mal pegam na mão um do outro? É um medo de contato que não condiz com um relacionamento, em que é necessário o contato, o olhar, um sorriso, um abraço. A expressão genuína da afetividade pelo outro está nos pequenos gestos e isso vale para qualquer tipo de relacionamento.
Quando falamos de relacionamento, imediatamente nos vêm à mente o relacionamento do casal, quando também nos relacionamos no trabalho, com os amigos, com a família. Muitos se afastam, nesta Era da Técnica implacável, onde cada um se isola em seu mundo virtual, nas redes sociais ou até mesmo em seus celulares, mesmo estando acompanhados de outros seres humanos! Vemos casais que saem para jantar e se importam mais em atualizar o status do facebook do que em manter uma conversa saudável com o parceiro. Famílias saem com seus filhos, que ficam trocando SMS com seus colegas e não se interessam pelos assuntos familiares; pais não sabem da rotina de seus filhos, e assim por diante. Uma triste realidade, em que muitos se deixam absorver pela tecnologia e trocam o contato humano por uma boa (?) navegação.
Não mais se pergunta do dia-a-dia das pessoas, mas sim se ela viu o facebook do phulano, se ela sabe que o ciclano casou ou que o coitado terminou um relacionamento de longos anos... este cenário é uma prova da intimidade se esvaindo, cedendo espaço para a individualidade de modo negativo. Cabe ressaltar como é importante preservarmos nossa individualidade, mas no sentido em que nos fazemos respeitar, não no sentido de nos fecharmos para o mundo que está logo aí, na nossa frente! Respeitar nossa individualidade não é o mesmo que ser individualista, o que deve ser combatido.
O individualismo é aquilo que afasta as pessoas, cada um querendo defender o seu sem se envolver com o outro, que é diferente de mim. Enquanto o outro, que é diferente de mim, continuar sendo visto como uma ameaça ao meu modo-de-ser, as pessoas irão continuar se afastando, sendo individualistas e continuarão sozinhas em um relacionamento à dois.
Um exemplo clássico de individualismo na família: em cada cômodo da casa existe uma televisão, dessas mais modernas, onde casa um assiste ao seu programa sem ser “incomodado” por alguém, cada um no seu quarto, sem se envolver, sem se interessar pelo programa do outro. Famílias deixam de fazer programas em família, para curtir um tempo só seu dentro de sua própria casa, é claro, defendendo sua própria individualidade. O que essa família não percebe é que está sendo individualista; afinal, todos têm suas preferências culturais, musicais, cinematográficas e afins, o que essa família não sabe é que é possível encontrar algo em comum que possa unir a família para um evento qualquer, filme, novela, jornal, que seja, mas para realmente uni-los e salvá-los do individualismo em que se enfiaram, resgatando assim, a intimidade da constelação familiar. O mesmo exemplo cabe nos outros infinitos relacionamentos que uma pessoa pode ter: amigos, trabalho, escola, também já dito.
Por fim, pode-se dizer que a união nesta nova era só se sustentará, se assim tiver de ser, com base na verdade, na transparência e fortalecendo a intimidade.
Boa reflexão!