Autismo - DSM V, segundo Camila Gadelha (psicóloga/RJ).
23/07/2013 21:53
Texto de autoria de Camila Gadelha, psicóloga formada pela UFAM – atualmente, fazendo especialização em Psicologia Clínica no Instituto de Psicologia Fenomenológica Existencial do Rio de Janeiro, tendo o autismo como objeto de estudo.
"O DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição) mal acabou de sair “do forno” e já está dando o que falar. Mas no que esse manual consiste? E qual a sua importância para os estudos sobre autismo?
Bom, o DSM é um manual criado pela APA – Associação Americana de Psiquiatria, para profissionais da área da saúde, principalmente saúde mental, de critérios e categorias dos transtornos mentais. Ele é utilizado para fazer diagnóstico das pessoas que tem algum tipo de transtorno.
Mas, por que esse alvoroço em torno do DSM V, que mal foi lançado? Um dos questionamentos dos especialistas acerca do manual é que ele teria transformado o normal em patológico, inserindo todo mundo em uma categoria de transtorno. Já, em relação ao Autismo, muita coisa mudou do DSM IV, sua penúltima versão, para o DSM V.
A primeira mudança é na nomenclatura. Autismo não está mais na categoria de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) e sim numa nova categoria: Transtorno de Espectro Autista. Isso acabou sendo uma mudança positiva, porque as pessoas de cara já sabem do que se trata. Mas não é apenas uma mudança de nome, é uma mudança de classificação.
Com isso, eliminam-se as categorias de Autismo, síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo e Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação e todos passam a ser Transtorno de Espectro Autista, que é divida nos níveis leve, moderado e severo.
Vejo com bons olhos essa mudança, isso porque vejo o autismo como uma nuvem, como o próprio nome diz, “espectro”. Os sintomas de todas essas categorias ficam meio que “embaçados”, não tem como você fechar como numa caixa e dizer que quem tem síndrome de Asperger vai ser exatamente igual a outras pessoas também diagnosticadas com síndrome de Asperger. Diversas variáveis contribuem para formar o quadro e se mostram mais significativas que as próprias características do transtorno.
Como não existe um exame que possa apontar quem tem autismo e quem não tem e isso é feito através de uma avaliação clínica baseada em características do comportamento, o DSM V, apresentando uma só categoria que engloba todos os tipos de autismo, acaba mudando a maneira como se faz o diagnóstico, pois ao invés de separar o que é e o que não é, o diagnóstico é feito de maneira a se adaptar conforme cada pessoa se apresenta, individualmente, sem tentar colocá-la numa caixinha pronta de sintomas e características.
Essas mudanças irão principalmente refletir no número de pessoas diagnosticadas com autismo no Brasil e no mundo, que pela estimativa da ONU, já são cerca de 70 milhões e muitas nem foram diagnosticadas ainda. Talvez, os critérios no DSM V tenham mudado por motivos que vão muito além dos conhecimentos que temos hoje em dia, talvez seja justamente para diminuir o número de pessoas com autismo, talvez não.
Para mim, o mais importante é o que essa mudança traz de positivo, que é justamente o fim de tentar encaixar, exatamente, uma pessoa em uma categoria e fazer justamente o oposto. É mostrar que além dos critérios diagnósticos que fazem uma pessoa “ser autista”, existem outros fatores que devem ser levados em consideração e que a pessoa vai muito além do transtorno que ela pode ter, ela é um ser humano e ponto".